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domingo, 31 de julho de 2011

'MOSCAS DETETIVES' AJUDAM PERÍCIA A ESCLARECER CRIMES NO RIO


Peritos criminais do Rio de Janeiro estão usando moscas varejeiras coletadas na cenas de crimes para desvendar casos violentos, como estupros seguidos de morte, homicídios, envenenamentos e até overdose.

Mesmo quando o cadáver é afogado, carbonizado para apagar evidências ou oculto em lugares distantes do local do assassinato, os ‘insetos-detetives’ são capazes de apontar com 100% de precisão onde o crime foi praticado, de quem é o corpo, há quanto tempo o homicídio foi cometido e como a vítima foi morta. A descoberta pode ser decisiva para incriminar ou inocentar suspeitos, já que os laudos são aceitos pelos tribunais como prova jurídica.

O método inusitado de utilizar larvas e moscas encontradas em cadáveres já é prática comum nos Estados Unidos há mais de 20 anos. No Brasil, a entomologia forense — ciência que estuda a aplicação dos insetos na solução de crimes — ganhou força a partir de 2005. Um impulso que aumentou este ano, com o treinamento de peritos e legistas do Instituto Médico Legal (IML) e do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE).

A partir do ano que vem, delegados poderão contar com mais essa arma contra o crime. “Não tínhamos como atender a todos porque era só eu que fazia o exame. Com as equipes treinadas todas as delegacias vão poder solicitar os laudos”, explica a perita criminal do ICCE, Janyra Oliveira da Costa, doutora em Zoologia pelo Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio (UFRJ). Ela montou um banco de dados com mais de 300 mil amostras de insetos para comparação em um laboratório montado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa (Faperj).

Um dos casos solucionados com a ajuda das moscas foi o de homem assassinado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Bandidos penduraram o corpo numa árvore simulando enforcamento. Testemunhas diziam que a vítima estava sumida há duas semanas, mas o estado de decomposição do cadáver dava a impressão que crime tinha ocorrido havia sete dias. Após a análise de larvas, peritos confirmaram que a morte ocorrera exatamente 15 dias antes.

Laudos são conclusivos e servem de prova na Justiça


As moscas costumam colocar seus ovos nos orifícios naturais do corpo, como boca, narinas, ouvidos, ânus e vagina. Ao se alimentar dos restos mortais, os insetos fazem a primeira coleta que será periciada. Nos casos de crimes sexuais, as varejeiras preservam no seu sistema digestivo o sêmen do criminoso. “Os laudos são conclusivos e servem de prova jurídica para condenar o réu”, diz Janyra.

Segundo a perita, quanto mais avançado o estágio de decomposição do corpo, mais úteis serão as amostras analisadas. “Depois de 72 horas, o corpo da vítima não tem mais fluidos, como sangue, ou digitais para fazer o exame. A coleta nesse caso é feita no material que foi digerido pelas moscas”, explica ela. Outros insetos atraídos por cadáveres como aranhas, besouros, lacraias e vespas também guardam vestígios do crime.

Em corpos carbonizados para despistar a investigação, os peritos podem coletar besouros que preferem ossos. Há insetos que são atraídos por corpos afogados. “Os insetos são verdadeiros detetives. Eles contam tudo sobre o crime. O nosso trabalho é traduzir o que eles preservaram intacto”, diz Janyra.

Vestígios de tiros são preservados

Sem a análise de insetos, em muitos casos, o criminoso fica impune porque os laudos saem como inconclusivos. Quando a vítima é morta por arma de fogo, mesmo que a bala tenha perfurado o corpo e não ter sido encontrada, o material coletado na mosca poderá indicar vestígios de chumbo, bário e antimônio. Insetos também preservam carbamato (chumbinho), que indica envenenamento.

Janyra explica como a análise pode indicar onde a vítima foi morta. “Mesmo que o corpo seja levado de um local a outro, a perícia dirá de onde são as larvas do cadáver”, diz a especialista, autora de livro ‘Entomologia Forense — Quando os insetos são vestígios’.

Usual fora do País, a análise de insetos para desvendar crimes é comum em episódios da série de TV americana ‘CSI’. Mas a maioria dos casos que chegam a Laboratório de Entomologia Forense não é de crimes contra a vida: 80% das solicitações são para avaliar contaminação em alimentos apreendidos.

Fonte:O Dia/Blog da Força Tática

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